país na pandemia

Ficou difícil defender o indefensável

A dois dias do fim do ano, o noticiário nacional e internacional só fala em uma coisa: o começo da vacinação das populações nos mais diversos cantos do mundo. Inicialmente, eu imaginava - até por toda a complexidade que existe e demanda tal caso (falando apenas em logística) - que o Brasil exigiria uma engenharia robusta e complexa para iniciar a imunização da nossa população. Acontece que, com o passar dos dias, o governo federal vem, como diz o ditado, "dando soco em ponta de faca".

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Estamos vendo, um a um, países das américas do Norte (Estados Unidos, Canadá e México), Central (Costa Rica) e do Sul (Chile) viabilizando a aplicação do imunizante junto às suas populações. Por aqui, o ministro da Saúde, o militar Eduardo Pazuello, que já escrevi como sendo um técnico elogiável e entendedor de logística, já sinalizou com prazos que teimam em não se concretizar.  

O CRÉDITO DA CULPA
Nas previsões anunciadas, o ministro anunciou o começo para dezembro. Depois, o prazo passou a ser janeiro e, ainda, fevereiro. E não se trata de ele ser ineficiente, como as redes sociais vociferam. Mas há o fogo-amigo, o anti-presidente, a oposição dentro do próprio governo, o mito nascido nas redes sociais e conduzido - pelo voto popular - ao comando da nação, mas que insiste em não ser o estadista que o momento exige. Jair Bolsonaro é uma espécie de Leviatã às avessas. 

Na obra hobbesiana, não é permitida que uns atentem contra a vida do outro. O Estado é maior e se impõe com esse propósito de garantir a vida, a prosperidade e a própria propriedade. Porém, ao governar a vida de todos, por ser uma espécie de rei mortal e com poderes absolutos, o Estado de Hobbes faz o mesmo no Brasil de hoje: o Estado é cruel e sufocante. 

INSTABILIDADE
Prova disso é que o governo federal nos dá um prenúncio de um 2021 de total indefinição e de descompromisso. Além disso, a União segue na vanguarda do atraso quando, ao contrário de outras dezenas de países, ainda não aprovou o registro de nenhuma vacina.  

O Brasil, um dos países mais populosos do mundo, e com uma das maiores marcas de mortes pela Covid-19 (mais de 190 mil óbitos), está no plano ainda das conjecturas e das projeções.

O presidente Jair Bolsonaro dá uma lição ao mundo de tudo o que não deve ser feito. Neste receituário macabro, que mescla frases de menosprezo à vida dos brasileiros e de desdém à ciência, ele condena uma nação inteira a engrossar os números de infectados e de mortos em uma pandemia, que é global, mas que já tem as nossas cores e pode ser chamada de "nossa".

O Brasil se tornou, neste ano que vai chegando ao fim, palco de discussões, no mínimo, nada produtivas. Por aqui, as pessoas vão às ruas ou às redes sociais para dizer que têm medo da vacina, mas não do vírus.

Nesse tipo de embate, totalmente desnecessário, impossível não concordar com a declaração recente do presidente, que disse, em outro contexto, "não dar bola para isso".

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